Por Jair Viana
disputa por terras a quase 500 quilômetros de Cuiabá (MT), que envolve advogados, um juiz e desembargadores, teve como desfecho a execução do advogado Roberto Zampieri, que atuava em processos referentes à demanda. Ele foi morto em dezembro de 2023. O conteúdo do celular de Zampieri virou a dor de cabeça de familiares e das autoridades envolvidas na disputa judicial pelas terras. O que há de tão importante ou grave nos arquivos do telefone é a grande questão. Até um mandado de segurança foi impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF).
O conteúdo de um celular e outros documentos envolvidos no caso foram apreendidos pela Polícia Civil e estão no centro de uma disputa pela manutenção do sigilo. A briga que começou pelas terras, se arrasta desde 1988. Pelo menos um desembargador está na mira do Conselho Nacional de Justiça, da Polícia e agora até do STF.
O conteúdo do tal telefone é tão preocupante que até um mandado de segurança já foi analisado pelo André Mendonça, que deu 72 horas para que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) se manifeste sobre a decisão de manter em seus arquivos o conteúdo do telefone e os demais documentos envolvidos na investigação. Na verdade, o ministro Luis Felipe Salomão, corregedor do CNJ, requisitou o envio do material, ao decidir sobre um pedido da viúva da vítima e do Ministério Público do Mato Grosso. A decisão de Mendonça no início deste mês e já foi cumprida.
SUSPEITAS
O caso do advogado Roberto Zampieri ganhou contornos de uma trama que pode envolver autoridades acima de qualquer suspeita e o interesse pela manutenção do sigilo sobre o que há nos registros do telefone da vítima só aumenta essas suspeitas.
Segundo o que a Polícia Civil apurou até hoje, a morte do advogado estaria relacionada a uma demanda judicial que se arrasta desde 1988, pela reintegração de posse de terras no interior de Mato Grosso. Filhos e advogados de desembargadores estariam envolvidos no caso.
O juiz Wladmyr Perri, que atuava na 12ª Vara Criminal de Cuiabá, determinou ao delegado que investiga a morte de Zampieri que entregasse tudo que foi apreendido no interior do carro da vítima no dia do crime. O juiz ainda determinou que todos os fatos e eventuais provas que surgissem no âmbito do inquérito da morte de Zampieri fossem entregues diretamente a ele e mais ninguém.
ROMPEU LACRE
O juiz Wladmyr Perri, hoje investigado, teria rompido o lacre de um envelope contendo documentos que estavam em poder da vítima na hora do crime. O magistrado ainda determinou que todo o conteúdo do telefone fosse extraído e enviado somente a ele.
Diante das decisões de Perri em relação a esse material e especialmente sobre o conteúdo do telefone, o Ministério Público e a viúva de Zampieri, Adriana Zampieri, denunciaram o caso ao Conselho Nacional de Justiça. Foi aí que o corregedor Luiz Felipe Salomão determinou a Wladmiy Perri o envio de todo o material para o CNJ. Salomão nomeou outro juiz do Conselho de Justiça para ficar responsável por tudo que se refere ao caso.
No mandado de segurança impetrado por Adrina Zampieri, o ministro André Mendonça, no dia 4 deste mês, deu prazo três dias para que o corregedor do CNJ, Luis Felipe Salomão informasse sobre a decisão em que determinou o envio do material ao Conselho de Justiça e as razões da reclamação disciplinar contra o juiz Wladmyr Perri, proposta pelo Ministério Público.
Em seu despacho, Mendonça observa que sua decisão tem como base "peculiaridades do caso". Todos os dados do polêmico telefone estão protegidos em nuvem, cuja senha apenas um dos ministros do Conselho Nacional de Justiça possui. O caso está sob sigilo em todos os âmbitos.
A EXECUÇÃO
O advogado Roberto Zampieri foi executado com tiros de uma pistola 9 milímetros em frente ao seu escritório, em Cuiabá, quando ainda estava no interior de seu carro. O suspeito de matar Zampieri é Antônio Gomes da Silva, de 56 anos. Ele foi preso dias depois do crime, em Belo Horizonte (MG).
INQUÉRITO
O inquérito policial que investigava a morte do advogado Roberto Zampieri, concluído pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), indica que o produtor rural Aníbal Manoel Laurindo temia perder suas terras por suspeitar de uma “proximidade” entre a vítima e um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Os irmãos Florindo chegaram a pedir afastamento do magistrado em uma ação.
Em entrevista recentemente, o delegado Nilson Farias, responsável pelas investigações, revelou que o mandante suspeitava de amizade entre o advogado e um desembargador. A questão estava mesmo ligada a uma disputa judicial.
O delegado ainda disse que o caso repercutiu em todo o país, tendo chegado ao Conselho Nacional de Justiça. “O mandante (Aníbal) acreditava que existia uma proximidade do advogado Roberto Zampieri com um desembargador. Essa é a motivação. Agora, em relação a eventual investigação desse caso, cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que inclusive já pediu os celulares, análise de celular, para fazer a investigação devida. Mas, em relação ao homicídio, figurou como motivação”, disse Farias.
Segundo as investigações, Aníbal temia perder suas terras, uma vez que o irmão, José Vanderlei Laurindo, já havia perdido uma das fazendas em ação judicial. O produtor rural movia uma ação na Justiça pela posse de uma propriedade com mais de 4 mil hectares. A decisão para desocupação sobre terceiros atingiu a fazenda do mandante, que foi incorporada a do irmão no processo.
Aníbal chegou a pedir a suspeição do desembargador na ação, mas o requerimento foi negado, assim como a posse definitiva da área.
A reportagem procurou todos os envolvidos no caso, mas não foram encontrados ou não retornaram às mensagens. Caso haja manifestação deles, o texto será atualizado.
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